Dois
amigos brincavam no parque e um deles tinha uma bicicleta. Este precisou sair
por uns minutos e pediu que seu amigo tomasse conta da sua bicicleta até que
voltasse. Também disse que ele poderia aproveitar para andar de bicicleta neste
tempo. O que esperaríamos deste cenário? O mais normal seria que o menino que
ficou tomando conta da bicicleta tivesse curtido bons momentos até a volta do
amigo. Também podemos imaginar que o amigo devolveria a bicicleta, eles se
despediriam e iriam cada um para sua casa.
O
amigo que ficou tomando conta da bicicleta, ao dar sua primeira voltinha,
descobriu duas coisas: 1) andar de bicicleta é muito divertido! Eu adoraria ter
uma. 2) a bicicleta pode estragar, o pneu pode furar, ela pode ser roubada. A
partir destas constatações, ele poderia ter agido de formas diferentes.
Poderia ter
ficado com medo de usar a bicicleta com receio de estragar, o que era pouco
provável que acontecesse. Poderia ter passado todo o tempo segurando a
bicicleta, morrendo de medo de alguém roubá-la enquanto estivesse sob sua
responsabilidade. Certamente, um tempo que poderia ter sido bastante divertido,
teria se tornado um sacrifício, afinal, além de ter que ficar esperando a volta
do amigo, ele ainda teria que tomar conta da bicicleta e estava com medo de
perdê-la ou danificá-la. Já começava até mesmo a ver arranhões na pintura e
temer que o amigo o culpasse por aquilo.
Outra hipótese
teria sido que o amigo tivesse se divertido tanto com o brinquedo que passou a
desejá-lo. Passou a não querer mais devolvê-lo. O garoto poderia ter roubado a
bicicleta.
Esta história
se parece muito com a história da nossa vida. Deus nos permitiu que viéssemos a
este mundo. Nós não escolhemos nascer e, sequer temos poder para sustentar
nossa própria vida. “Que se poderia dar em troca da vida?” (Mt 16, 26). Pouca
coisa é preciso para morrermos: um acidente de carro, uma doença, uma batida na
cabeça. E o que podemos fazer para evitar a morte? Cuidar da saúde? Não nos
jogarmos na frente de um carro em movimento? Morar longe de áreas perigosas?
Tomar remédios? Sim! Muitos cuidados importantes podemos tomar, mas sabemos que,
por mais que nos cuidemos, o Senhor nos chamará, mais cedo ou mais tarde.
Exatamente como o amigo que, ao emprestar a sua bicicleta disse que retornaria
dentro de alguns minutos. O que faremos, então, com esta vida que Deus nos deu?
Ao vivermos,
constatamos que é bom estar aqui e há muitos prazeres neste mundo. Também
percebemos como somos frágeis e a morte está bem perto de nós. Podemos,
portanto, nos desviarmos da finalidade da nossa vida, da nossa missão. Podemos
nos apegar às coisas deste mundo e à nossa vida. Podemos querer não devolver
mais a nossa vida a Deus, fugir da morte, desejar viver neste mundo para
sempre, possuir a nossa própria vida, como o garoto que roubou a bicicleta. Ao
roubar a bicicleta o garoto colocou o seu prazer acima do compromisso que havia
combinado com o amigo. Assim fazemos quando buscamos o prazer pelo prazer. Deus
permite que tenhamos muitos prazeres enquanto estamos aqui neste mundo, mas não
deseja que os busquemos. Ao buscar o prazer e a felicidade nas coisas deste
mundo, passamos por cima dos outros, ferimos os sentimentos alheios, somos
injustos e não honramos os compromissos assumidos com Deus e com nossos irmãos.
Porque, tantas vezes, para praticarmos a justiça e honrar nossos compromissos,
não experimentamos o prazer, mas o sofrimento e a cruz. Devolver a bicicleta ao
dono não é algo prazeroso, mas é o correto a se fazer.
Também
constatamos, ao viver, que há muitos perigos aqui e, com muita facilidade,
podemos perder a nossa vida. O medo de perdê-la pode nos paralisar. Podemos
passar a viver com o objetivo de preservar a nossa vida e a de quem amamos. Mas
de que adianta se ocupar de evitar a morte se um dia morreremos? Seria como o
garoto que decidiu não brincar com a bicicleta. Se damos a nossa vida um valor
maior do que ela tem, nossa vida passa a ser uma tortura porque nos tornamos
escravos do medo da morte.
Renunciemos ao
mundo. Renunciemos a tudo que o demônio nos oferece em troca da nossa
liberdade. Renunciemos aos prazeres da carne. Não os busquemos! Vivamos para
Deus! Alegremo-nos em Deus! Consolemo-nos em Deus! Dele viemos e para Ele
voltaremos. Sejamos sóbrios e encaremos a realidade com coragem e esperança.
Que tal
aproveitarmos para andar de bicicleta, já que sabemos que logo, logo o dono
chegará? Apenas vivamos cada dia, um dia de cada vez, assumindo nossas
responsabilidades, cumprindo nossas obrigações e aproveitando os bons momentos.
E quando se aproximar a hora da morte, entreguemos a vida! Devolvamos aquilo
que não é nosso, como o garoto que devolveu a bicicleta. Sejamos gratos pelos
bons momentos vividos e entreguemos a nossa vida nas mãos de Deus, na esperança
da ressurreição e da vida eterna. Na esperança de que as coisas não terminam com
a morte e uma nova vida há de vir.
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