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ADOLESCENTES




               Aos doze anos de idade, Jesus subiu a Jerusalém com seus pais para a festa da Páscoa mas, ao retornarem para a casa não perceberam que Jesus havia ficado em Jerusalém. Jesus ficou perdido por três dias, deixando São José e a Virgem Maria cheios de aflição. Ao encontrarem, sua mãe disse-lhe: “Meu filho, que nos fizeste?” e Jesus respondeu: “Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?”. Jesus havia ficado em Jerusalém intencionalmente, mas não por diversão ou rebeldia, como poderia ser esperado de um adolescente de doze anos. Por que, então, o Senhor fez isto a seus pais? Qualquer outra criança mereceria um castigo por tal atitude, mas não o Filho de Deus. Qual o propósito deste acontecimento?

               Acredito que o fato de isto ter ocorrido com a idade de doze anos não foi por acaso. Doze anos é a idade em que as coisas começam a mudar em casa. É por volta desta idade que a criança atinge a altura e a força de seus pais e começa a dar seus primeiros passos sozinha. Começa a dar maior importância para as amizades e passa a se interessar em namoros. Já não depende mais de seus pais em quase nada. Até então, os pais faziam do seu jeito, levavam a criança para onde queriam, eram responsáveis por cuidar de suas vidas, preservando-as dos perigos do corpo e da alma. Podiam submetê-las pela força. Mas agora, começa a não fazer mais sentido pegar seu filho pela orelha. Ele está virando adulto e precisa começar a caminhar neste mundo com suas próprias pernas, fazer suas escolhas, quebrar a cara, sofrer.

               Damos a nossa vida pelos nossos filhos, os criamos com muito amor e dedicação renunciando a tudo por eles. E qual o pagamento recebemos por tanto esforço? O sofrimento. É verdade que nossos filhos são aqueles que mais alegria nos dão neste mundo, mas também sofreremos muito por eles, por cada injustiça que sofrerem, por cada queda, cada desilusão, desprezo e humilhações. E ninguém recebeu pagamento maior do que a Virgem Maria. Ao contrário dos nossos filhos, Seu Filho era justo e inocente. O pagamento que recebeu por renunciar aos seus sonhos e planos para ser a Mãe do Salvador foi o de ver seu Filho humilhado na cruz. Qual mãe aceitaria que seu filho sofresse tudo o que Cristo sofreu sem tentar mudar o rumo da história. Se você é pai e mãe, tente imaginar a sua reação diante de uma injustiça praticada contra seu filho. Se seu filho ainda é pequeno, pense em como você reage quando vê um amiguinho fazendo alguma maldade com seu filho. Não ficamos quietos. Nosso instinto nos leva a defender nosso filho. Mas a Virgem Maria não fez nada diante da crucificação de Cristo. Assistiu a tudo e acompanhou seu Filho até a cruz, de pé, sem nada fazer ou falar.

               Acredito que a perda de Jesus por três dias aos doze anos tenha sido uma preparação para a perda de Jesus na cruz, mais tarde. Era como se Jesus ou o próprio Pai dissesse à Virgem Maria naquele momento: “Até agora o Menino foi inteiramente teu, levaste para onde querias, fizeste como querias, mas chegou a hora de começar a te preparar para perder o teu Filho. Ele tem uma missão e precisará cumprir. Tu cumpriste a tua, mas precisas deixar que Ele siga seu caminho e nada deves fazer para impedir sua caminhada. Ele está virando adulto e está chegando a hora de seguir Seus próprios passos. É preciso que comeces a te desapegar da carne e amar teu Filho em Espírito. A recompensa que tereis por ter cuidado com tanto carinho do Teu Filho, cumprindo Tua missão, será dada a Ti na Eternidade, onde serás coroada como Rainha do Céu. Lá estarás ao lado do teu Filho para todo o Sempre e lá Ele será adorado eternamente. Mas a recompensa que o mundo te dará será o sofrimento, o escárnio, a humilhação e a dor.”

               Nossos filhos não são nossos, são de Deus. Ele confiou estes pequeninos para cuidarmos deles enquanto ainda não são capazes de cuidar de si próprios, mas eles tornar-se-ão adultos como nós e deverão encarar a vida de adulto como todas as suas responsabilidades e suas dores. Não podemos tratá-los como criaturas indefesas pelo resto de suas vidas nem querer que eles continuem fazendo tudo do nosso jeito. Precisamos deixar que trilhem seus próprios caminhos, façam as suas escolhas, lamentem suas dores e assumam suas responsabilidades. Chega um momento em que não devemos mais interferir nas suas vidas tentando dar um jeitinho para livrá-los do sofrimento. Nossos filhos irão sofrer na escola, no casamento e no trabalho e não podemos passar a mão em suas cabeças a cada decepção, querendo resolver seus problemas e achando que são coitadinhos. Lembremos que a única mãe que viu Seu Filho sofrer injustamente foi a Nossa Senhora. Nós todos somos injustos e pecadores e merecemos sofrer neste mundo, inclusive nossos filhos. Confiemos em Deus, que é Justo e tudo vê. Ele não nos faltará nem será alheio ao sofrimento dos nossos filhos. Em tudo Ele estará presente, livrando-os das ciladas do Inimigo e dando-lhes força para suportarem suas aflições. Diferente da recompensa que o mundo nos dá, o Senhor recompensará todo o nosso esforço e as lágrimas derramadas pelos nossos filhos e, no Céu nos encontraremos, para sempre viveremos e o sofrimento não mais existirá.


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