Quando
precisamos ir ao hospital necessitando de internação para realizar um
procedimento cirúrgico, nos dirigimos até a recepção e solicitamos a
internação. A atendente nos pede alguns dados e pede que aguardemos. Então, ela
nos encaminha para um quarto por ela definido, num andar por ela escolhido,
onde nos recolhemos aguardando o início da cirurgia. Talvez aquele quarto não
fosse o melhor do hospital, podendo haver outras opções que melhor lhe
atenderiam, mas a atendente não lhe perguntou qual quarto você deseja, nem
mesmo quis saber se você tinha alguma exigência ou preferência pelo andar do
prédio. Ela não lhe mostrou todas as acomodações disponíveis e não ofereceu um
passeio pelo hospital para conhecer os quartos. Isto tudo parece bem óbvio e
você deve estar se perguntando por que eu estou falando disto, quando não
parece ser do interesse nem do hospital e nem do paciente gastar todo este
tempo escolhendo um quarto. O hospital não é um hotel de férias e o paciente
não foi ao hospital procurando descanso e conforto. Além disso, o paciente
pretende realizar o procedimento e receber alta o quanto antes, o que coincide
também com os interesses do hospital e, portanto, não há vantagem alguma em se
gastar meia hora decidindo qual o melhor quarto. Portanto, parece bastante
óbvio que a escolha do quarto seja feita exclusivamente pelo hospital, que
conhece as acomodações e sabe quais estão disponíveis. Envolver o paciente
nesta escolha só iria atrapalhar e causar descontentamento no paciente, já que a
possibilidade de poder escolher um quarto poderia levá-lo a enxergar
desvantagens no seu quarto em relação aos demais.
Na nossa
rotina diária com os filhos, inúmeras vezes somos este atendente do hospital a
perguntá-los qual quarto desejam. Seja na hora da refeição, perguntando o que
desejam comer ou se estão com fome, seja na hora de brincar, perguntando o que
desejam fazer, na hora de dormir, perguntando se já estão com sono, na hora de
se sentar à mesa, perguntando onde querem se sentar. Será que seu filho
precisa, realmente, escolher o que comer ou onde se sentar? Quando você faz
esta pergunta simples ao seu filho, você dá a ele a possibilidade de escolher.
Mas será que é interessante para você e para seu filho permitir que ele
escolha? Será que vale a pena o tempo gasto nesta conversa sobre o que comer ou
sobre a hora de dormir?
Obviamente, a
família não é um lugar onde deva prevalecer o autoritarismo e a indiferença.
Tampouco os filhos não devem ser ouvidos. Mas, muitas vezes, para manter a
ordem da casa e a paz na família, é necessário olhar para aquilo que realmente
importa e não perder tempo com discussões sem sentido, que nada acrescentam e,
muitas vezes, terminam em brigas desnecessárias. Isto porque, quando você
pergunta ao seu filho pequeno o que ele deseja comer, ele poderá escolher
chocolate, o que na sua visão de criança seria a melhor opção. E, então, você
vai começar um longo discurso sobre a importância de comer frutas e evitar os
doces. Só que você poderia ter evitado toda esta conversa, simplesmente
oferecendo a ela uma maçã. Assim como a atendente do hospital tem melhores
condições de definir o quarto mais apropriado para o momento, você tem melhores
condições de definir o que é melhor para o seu filho. Dar ao seu filho a
possibilidade de escolha é, muitas vezes, fazê-lo enxergar que ele tem opções
melhores, mas terá de se contentar algo pior.
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