Você
está numa rodinha de amigos e, de repente, alguém começa a falar de política e,
ainda por cima, com um posicionamento contrário ao seu. Você sente a carne
tremendo e o coração disparado! Pior ainda se você estiver sozinho na discussão
e as pessoas da rodinha conhecerem seu posicionamento. Logo pensamos: “E agora?
Não vou falar nada? Não vou defender meu partido? Eles são uns fanáticos que
nunca leram nada diferente, não sabem das coisas que eu sei.” E não é só na
política que isso acontece, mas também com religião e em outros assuntos.
Nossos
preconceitos nos levam a adotar uma postura arrogante e prepotente. Assumimos
que somos superiores e tais pessoas discordam por ignorarem o que sabemos. Na
verdade, temos medo de discordar das nossas próprias convicções, temos medo de
ficar confusos, e nos sentimos pressionados a ter uma opinião sobre tudo, mesmo
sem entender do assunto ou sem estar por dentro do que aconteceu. Mas temos que
concordar com tudo o que o partido faz? Temos que concordar com tudo o que a igreja
diz?
No
caso da Igreja, aqueles que desejam ser católicos são obrigados a obedecê-la,
mesmo que discordem, em atitude de humildade, reconhecendo que nossos
julgamentos nem sempre são justos e confiando no poder de Deus, que nos conduz
no caminho reto apesar das nossas limitações. Na verdade, não somos obrigados a
concordar com nada porque concordar ou discordar de algo não é uma escolha. Se
trata de um julgamento que brota espontaneamente na nossa mente com base nas
informações que temos no momento. Você pode até reprimir o seu julgamento para
não discordar das suas convicções, assumindo que seria uma infidelidade ao
partido ou à religião, mas, no seu íntimo, você discorda.
Jesus
era judeu, mas não fazia parte da turminha do alto clero judaico. Veio para
salvar os judeus, mas não foi bem aceito porque contrariou algumas das suas práticas.
Frequentava a sinagoga, curava os doentes e multiplicava os pães; nenhum mal
fez a qualquer pessoa. Nenhum ato Seu poderia ser repreensível, mas não foi
aceito, porque não era do grupinho daqueles que se achavam escolhidos por Deus.
Esses judeus que não O aceitaram, fecharam os olhos e os ouvidos para as evidências
por medo de contrariar as suas convicções, por medo de discordarem de tantas
leis que haviam criado com suas melhores intenções. Eles fecharam seus olhos e
seus ouvidos para seus próprios corações. Tiveram medo de ficar confusos,
afinal de contas, já estava tudo tão certinho; sua religião já estava formada,
já tinham seus ritos e seus fiéis. Mas a multidão aclamava Jesus e O seguia
para ouvir seus ensinamentos e pedir curas. Por que os fariseus e doutores da
lei não prestaram atenção no povo e não procuraram saber quem era,
verdadeiramente, esse Jesus? Talvez por se acharem superiores: “O povo aclama
Jesus porque não conhece as leis e as Escrituras como nós, são ignorantes. Eles
não sabem quem Ele é de verdade! Se cura, é por Beelzebul! Esse Jesus é um
agitador das massas, um revolucionário, enganador dos pobres!”. Se recusaram a
abrir o coração para conhecer Jesus e julgar com sinceridade Suas obras porque
Ele era diferente, porque tiveram medo do desconhecido e da mudança.
Mas
se eu sou católica e quero continuar sendo católica, como lidar com pessoas de
outras religiões, que tem opiniões contrárias às minhas? Como me relacionar com
pessoas que apoiam o partido rival? Seria melhor me afastar? Talvez pedir para
não conversarmos sobre o assunto para evitar brigas e preservar a relação? Como
abrir o meu coração para ouvir com sinceridade os argumentos do meu rival? E se
eu ficar confuso?
Talvez,
a melhor atitude seja escutar. Abrir o coração e os ouvidos para ouvir os
irmãos com atenção e respeito, com a intenção sincera de conhecer o que pensam
e o que sabem. Entender que não somos superiores e que eles podem ter
informações que desconhecemos e podem contribuir para o nosso crescimento. E o
melhor de tudo: não precisamos manifestar nossas opiniões! Podemos,
simplesmente, ouvir e analisar. Se cremos que Cristo é a Verdade, confiemos que
Ele nos levará ao conhecimento da verdade e à justiça, basta que não nos
afastemos de Deus e O busquemos todos os dias nas nossas orações,
principalmente quando nosso coração estiver inquieto e confuso. Ele nos enviará
o Espírito Santo para conduzir nossos pensamentos, nossas leituras e nossas
conversas e não nos deixará sem respostas. Na verdade, conviver com aqueles que pensam diferente de nós é uma bênção, pois eles nos possibilitam sair do
comodismo e nos ajudam a trilhar nosso caminho de conversão! Estejamos atentos
ao que nosso irmão quer nos falar! Não somos rivais, somos todos irmãos em
busca da verdade e da justiça.
Peçamos
a Deus a graça de nos libertar do medo do diferente e do desconhecido; da
covardia de fugirmos daquilo que nos incomoda; e da arrogância e da prepotência
que nos cega e nos impede de sermos melhores.
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