Beleza Escondida

               Jesus foi condenado, açoitado, crucificado, humilhado e desprezado. Vendido por Judas, negado por seu amigo Pedro. Aquele que tanto amou e curou os desprezados e marginalizados, o próprio Deus, autor da vida e Todo-Poderoso, agora se faz excluído como seus irmãos sofredores. “Não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos. Era desprezado, era a escória da humanidade.” (Isaías 53, 2b-3a). Mas por trás desta aparência, se escondia o próprio Deus encarnado; um Deus que só podia ser visto abrindo-se os olhos do coração.

               Há momentos em que o Senhor nos convida a encontrar uma beleza escondida. Os deficientes, os pobres, os doentes e os idosos aparentemente, pouco ou nada podem nos oferecer. Não há neles beleza que possa nos atrair. Mas Deus nos convida a ir além, permitir o encontro e prestar atenção naquela alma. O que se encontra atrás daquele corpo ferido pela doença? Os idosos não podem mais nos servir, não geram mais riquezas materiais para a sociedade, mas qual riqueza está escondida por trás daquele corpo que já não é mais tão belo? O Senhor nos chama a nos aproximar daquilo que, no primeiro momento, rejeitamos. Nos convida a observar, passar um tempo, conhecer e descobrir os tesouros escondidos nestes corações. Tesouros que precisam ser garimpados e, por isso, exigem um pouco mais do nosso tempo.

               Por outro lado, tantos corações feridos pelo desprezo e pela humilhação se fecham para o amor. Têm motivos para serem amarguradas e implicantes, pois muitas são as injustiças que sofrem. Mas o Senhor também nos convida a amar apesar das injustiças. Ele liberta o nosso coração para sermos felizes, apesar do sofrimento. Ele nos amou diante de todo o sofrimento na cruz. Sua resposta às injustiças e humilhações foi o amor porque tinha um plano maior.

               O Senhor nos chama a encontrar esses tesouros escondidos por detrás das asperezas dos nossos parentes. Ele nos convida a preparar nosso espírito para sofrer injustiças e continuar amando. Quantas vezes a esposa se esforça para preparar um jantar gostoso para o marido, mas recebe espinhos e reclamações? O Senhor nos convida a olhar com amor para o nosso marido, perceber que ele teve um dia difícil no trabalho e quer desabafar, quer o nosso consolo, precisa do nosso amor. Quantas vezes o marido chega alegre em casa, mas a esposa o recebe com cobranças e reclamações? Também aí somos chamados a amar, apesar da injustiça. Somos chamados a olhar com carinho para aquela mulher e pensar no que podemos ajudar para aliviar seu cansaço. Esse olhar de amor e misericórdia é capaz de transformar nossas vidas e nossas famílias. Preparemos o nosso espírito para receber as asperezas da vida com atenção e carinho, pois são presentes que se revelam àqueles que não desistem de amar.